RIE_01_2014

Queixam-se os espíritas, amiúde, que são sempre combatidos e depreciados.

Octávio Caúmo Serrano | caumo@caumo.com

Quem pode fazer o mal à nossa Doutrina? Os religiosos de outras crenças, que nos combatem e tentam denegrir nossos princípios? Os cépticos ou os ateus que em nada acreditam e dizem que o relacionamento com o plano espiritual não passa de fantasia ou mistificação infantil e desonesta? Ou seriam os científicos que dizem que tudo precisa passar pelo crivo da ciência antes de se garantir a veracidade dos fatos?

Esses nada podem fazer contra o Espiritismo porque não alcançam a sua natureza superior de revelação divina, porque é mensagem dos Espíritos, num âmbito universal.

Os religiosos estão perdidos nas suas próprias crenças e a cada momento revisam seus conceitos, corrigem sucessivos erros e tentam inventar fórmulas mágicas para recuperar as ovelhas que desgarram. A mensagem está inconsistente e ultrapassada e por isso já não provoca interesse nem nas pessoas de inteligência mediana. Usam rituais sem sentido que não mais atraem o praticante. Em vez de servir aos homens servem-se deles!

Os cépticos e ateus perdem-se na preguiça e aleijão mental: é mais cômodo negar e duvidar de tudo do que estudar e pesquisar, porque isso os levaria a ter de mudar de opinião, rever conceitos e, quem sabe, admitir seus equívocos. Teriam de dar a mão à palmatória e não estão interessados. O orgulho não lhes permite essa grandeza!

Os científicos são os que descobrem a cada dia algo novo; uma lei da física, um elemento químico, um transtorno psicológico e que, ao longo do tempo, já fizeram afirmativas esdrúxulas e sem nexo, e foram obrigados a desmentir e desculpar-se com o passar dos anos. Os sistemas geocêntrico e heliocêntrico são exemplos expressivos. Não conhecem a Lei de Deus. Muito mal, conhecem as leis dos homens, exclusivamente materiais, e acreditam que nela está a revelação por inteiro. Não percebem que a cada momento as verdades se aprimoram e se alteram. Quando o homem cresce em entendimento, Deus lhe revela mais um pouco de sua Lei.

Não se mata uma ideia denegrindo-a, mas apresentando outra melhor que possa comprovar a falsidade da primeira. Não se mata uma ideia matando seu autor. Se assim fosse, a morte de Jesus teria dado fim à doutrina cristã e as perseguições inquisitórias destruiriam os fenômenos espirituais que se sucedem interminavelmente. Nunca pararam de ocorrer. O mesmo se dá com o Espiritismo. A queima de livros em Barcelona fez com que a fogueira em praça pública servisse somente para aumentar ainda mais a claridade das suas revelações.

Se ninguém pode fazer mal à nossa Doutrina, não há porque nos preocuparmos, então. Mas apesar de dizer os já citados não podem nos destruir, não esqueçamos do que disse Kardec: “Mais do que os possíveis detratores do Espiritismo, o que realmente me preocupa são os falsos espíritas”. Infelizmente, os reais antagonistas da Doutrina são os pseudoespíritas que estão dentro dos centros, não mais os médiuns charlatães que cobram por seus trabalhos, que aparecem na mídia, como já acontecia em 1860. Hoje, qualquer espírita sério, mesmo em início de estudo, sabe que esses médiuns não são espíritas (consultar o livro Viagem Espírita em 1862).

Nós mesmos que nos dizemos espíritas, por não completar o conhecimento com o exemplo, acabamos sendo maus propagandistas da Doutrina e, mais que isso, péssimos exemplos de verdadeiros cristãos, porque desdizemos com atos o que divulgamos com palavras.

É comum um dos cônjuges ser participante do movimento espírita por vinte, trinta anos, e ficar inconformado porque não consegue convencer a parceira ou parceiro a seguir seus passos, por mais que insista e convide. Não se dá conta, porém, que é ele mesmo o grande culpado pelo desinteresse do outro.

Ao ver o marido, por exemplo, precisando de apoio espiritual, a esposa convida-o a ir ao centro espírita receber passes e ouvir palestras, afirmando que seria bom para ele e poderia acalmá-lo e reanimá-lo. Mas ele não se entusiasma porque vê na esposa a mesma pessoa neurótica e insatisfeita com a vida, reclamando de filho, dos trabalhos domésticos e das dificuldades da vida, apesar dos vinte, trinta anos de prática espírita. Que fazer num centro que não conseguiu transformar a esposa, depois de tantos anos de assídua participação nas suas atividades? Se não foi bom para ela, seguramente, não o será também para ele. É o que imagina!

Esta sempre foi a preocupação de Allan Kardec, porque não é só no reduto doméstico que deixamos de exemplificar. Também na rua, na escola, no trabalho, na loja, no banco. Onde quer que estejamos, deixamos de ter comportamento espírita, ou seja, serenidade, paciência, desprendimento e resignação diante dos percalços do cotidiano. Na palestra ou no comentário do estudo, somos sapientes e oferecemos todas as receitas de bem viver e recomendações de como deve o homem proceder diante da vida. Mas, recordando o velho conselho “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, afastamos as pessoas do Espiritismo, sem dar-nos conta que somos colaboradores do trabalho das trevas.

Se quisermos convencer as pessoas que nos rodeiam, e principalmente as que sabem que somos espíritas, falemos pouco e façamos muito. Sejamos exemplos de comportamento e poderemos dispensar a eloquência dos discursos. Senão, cairemos naquelas afirmativas do crítico: “O que ele é fala tão alto que nem escuto o que ele diz”; “Até o silêncio dele é barulhento”; “Tem uma energia espiritual que incomoda a quem dele se aproxima”.

Como diz Emmanuel na mensagem Vê como vives, “todos os homens vivem na Obra de Deus, valendo-se dela para alcançarem, um dia, a grandeza divina. Usufrutuários de patrimônios que pertencem ao Pai encontram-se no campo das oportunidades presentes, negociando com os valores do Senhor”.

“Em razão desta verdade, meu amigo, vê o que fazes e não te esqueças de subordinar teus desejos a Deus, nos negócios que por algum tempo te forem confiados no mundo”. Esta é a melhor forma de agradecer a Deus e retribuir ao Espiritismo tudo o que faz por nós.

RIE – Revista Internacional de Espiritismo – Janeiro de 2014