“664 – É útil orar pelos mortos e pelos Espíritos sofredores e, nesse caso, como nossas preces podem proporcionar-lhes alívio e abreviar seus sofrimentos? Têm elas o poder de dobrar a justiça de Deus? A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se ora experimenta alívio, (…), pela prece, provoca-se o arrependimento e o desejo de fazer o que for preciso para ser feliz. (…) Esse desejo de melhorar-se, excitado pela prece, atrai, antes de espíritos sofredores, espíritos melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe a esperança. (…)” — O Livro dos Espíritos.
O que é a prece? É um ato de ligação com o Pai procurando estar de acordo com as Leis Divinas. Momento no qual poderemos agradecer, glorificar ou pedir algo. No normal utilizamos mais o último: pedir. A prece representa um momento de introspecção, que nos desnudamos perante a Divindade e mostramo-nos tal qual somos. O conhecimento de quem somos facilita esta momento. Assim poderemos entrar em contato com o Eu Divino que habita em nós e por consequência, entrar em contato com a própria Divindade.
O primeiro ponto a destacar é que a prece faz com que sintonizemos com Deus fortalecendo-nos contra as tentações do mal. Deus reconhecendo a nossa sinceridade envia-nos os bons espíritos em nosso auxílio. Mas ele envia os bons espíritos para quê? Para nos ajudar. Para nos fortalecer. Normalmente vemos nestes filmes que mostram situações de superação, pessoas que já se consideravam vencidas, criarem forças do “nada” em virtude de uma palavra ou exemplo de alguém. O raciocínio é o mesmo com relação às preces dirigidas a nós mesmos ou aos desencarnados.
Quando estamos sofrendo e alguém procura interceder por nós, mesmo não resolvendo nosso problema, provoca-nos profundo alívio por percebermos que alguém se importa conosco. Isto gera um verdadeiro refrigério n’alma, trazendo-nos a alívio para a sensação de sufocamento que estamos sentindo. O mesmo ocorre com relação ao desencarnado que se vê objeto de preces intercessórias. Vislumbra que não está sozinho, pois alguém “se ocupou” com ele. A princípio causa alento, depois alegria e posteriormente força e esperança para mudar a situação vigente. É todo um encadeamento de situações desenroladas em virtude da prece feita com amor pelo outro que sofre.
Um ponto interessante que percebemos nas reuniões mediúnicas das quais participamos é que existem entidades que lá vão acreditando que os outros é que irão resolver seus problemas, que irão fazer com que o sofrimento cesse, mas nós sabemos que não é assim. Da mesma maneira que existem pessoas que acreditam que as suas preces de nada servirão para ajudar aos desencarnados, existem desencarnados que se acreditam livres de esforçar-se por terem alguém que orem por eles. Pensamentos estes equivocados. Não podemos transferir para o outro a resolução de nossos problemas. Eles foram criados e cultivados por nós, então nos cabe à solução. O que o princípio da fraternidade faz é podermos, através da piedade, nos solidarizarmos com o sofrimento do outro e ajuda-lo a enxergar novas perspectivas para solucionar o problema.
“665. Que se deve pensar da opinião dos que rejeitam a prece em favor dos mortos, por não se achar prescrita no Evangelho? Aos homens disse o Cristo: Amai-vos uns aos outros. Esta recomendação contém a de empregar o homem todos os meios possíveis para testemunhar aos outros homens afeição, sem haver entrado em minúcias quanto à maneira de atingir ele esse fim. (…)”— O Livro dos Espíritos.
Sempre poderemos produzir alívio nos outros inclusive desencarnados. A prece é um ato de amor e como tal envolve e ajuda àquele a quem é dirigida. Isto não significa uma derrogação das leis, como alguns afirmam. Antes é um gesto de piedade que lhes abranda os sofrimentos. Deus leva em conta os nossos gestos de caridade para com o outro. Não nos cabe à determinação do período de sofrimento dos outros nem de nós mesmos. Então, tudo o que pudermos fazer para abrandar o sofrimento alheio, façamos! Não sabemos se está nos desígnios Divinos a cessão do mal naquele momento, cabendo-nos ser instrumento para tal consecução.
É todo um processo de causa e efeito do qual não podemos nos isentar ou fugir. A psicologia nos fala do consciente e inconsciente. Este último sede da memória permite o ressurgimento de situações passadas para que possam ser diluídos no momento presente. Possuímos a nossa consciência a nos cobrar o que devemos fazer. Ela por vezes é mais severa do que as próprias Leis Divinas. Pois vem acrescida dos nossos preconceitos e arquétipos imersos na consciência de sono que alguns ainda estamos mergulhados, turvando-nos a visão e impedindo o entendimento justo dos fatos.
Para encerrarmos, trazemos um trecho do Livro O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. IV, Auguste Michel, Prece sob a tumba. Interessante o destaque por demonstrar o alcance da prece, não importando o local onde ela é feita, mas sim a intenção.
“Nota – A insistência do Espírito, para que se orasse sobre o seu túmulo, é uma particularidade notável, mas que tinha sua razão de ser se levarmos em conta a tenacidade dos laços que ao corpo o prendiam, à dificuldade do desprendimento, em consequência da materialidade da sua existência. Compreende-se que, mais próxima, a prece pudesse exercer uma espécie de ação magnética mais poderosa no sentido de auxiliar o desprendimento. O costume quase geral de orar junto aos cadáveres não provirá da intuição inconsciente de um tal efeito? Nesse caso, a eficácia da prece alcançaria um resultado simultaneamente moral e material.”
Jornal Tribuna Espírita – Paraíba – Janeiro/Fevereiro de 2015