Octavio_Pensando

Articulista Octávio Caúmo Serrano completa, em fevereiro, 25 anos ininterruptos de contribuição à Revista Internacional de Espiritismo.

  • Cássio Leonardo Carrara

Paulistano da Bela Vista, nascido em 1934, e residindo desde 1997 em João Pessoa, capital do estado que o homenageou em 2005 com o título de Cidadão Paraibano, Octávio Caúmo Serrano é espírita desde a década de 1970. Estudou e trabalhou na Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) e em grupos ligados à Aliança Espírita Evangélica e Fraternidade dos Discípulos de Jesus – Setor III, colaborando com palestras e aulas em diferentes centros. Pai de Octávio Alcântara Caúmo e viúvo de Maria Alcântara Caúmo, com quem ficou casado por 54 anos, fundou juntamente com a esposa, em 1982, o Centro Kardecista Os Essênios, na Vila Guarani em São Paulo (que há seis anos é C.E. Eurípedes Barsanulfo). Em João Pessoa, fundou instituição de mesmo nome no dia 1º de abril de 1997, que preside atualmente. Autor dos livros Pontos de Vista e Modos de Ver, da Casa Editora O Clarim, apreciador da poesia, autor dos blogs http://www.ocaumo.wordpress.com e http://www.essenios.wordpress.com, Caúmo foi convidado no final da década de 1980 por Wallace Leal V. Rodrigues a contribuir para a Revista Internacional de Espiritismo. Seu primeiro texto foi publicado na edição de fevereiro de 1990, completando nesta edição 25 anos de colaboração.

RIE – Como surgiu a possibilidade, em fevereiro de 1990, de iniciar a colaboração com artigos na RIE?

Octávio Caúmo Serrano – Solicitado pelo saudoso Wallace Leal Rodrigues, na época diretor responsável da Casa Editora O Clarim, enviei a matéria Reencarnação. Infelizmente o companheiro desencarnou logo a seguir e seu substituto, o atual diretor e dileto amigo Aparecido Belvedere que entrou em contato comigo para que o desenho ilustrativo fosse melhorado, porque pretendia publicar o material, o que realmente veio a acontecer.

RIE – Em que período a coluna mensal passou a ser bilíngue, com as versões em português e espanhol?

Caúmo – A coluna passou a ser bilíngue em junho de 1998 (já se vão quase 17 anos) quando a RIE manifestou interesse em ter na revista textos em diferentes idiomas. Nessa época saiam, ocasionalmente, textos em italiano, inglês, alemão, francês, sueco, além do nosso com compromisso mensal, que jamais deixou de ser publicado.

RIE – Você recebe ajuda com as traduções?

Caúmo – Nunca estudei espanhol, mas gosto muito de falar a língua, o que só faço em viagens, e havia sempre comentários no exterior que eu me expressava com facilidade em castelhano. Atribuo essa facilidade que tenho a alguma eventual encarnação em país de língua hispânica. É inexplicável a alegria que sinto ao falar a língua e a extroversão que experimento quando estou num país desse idioma. Algo que não consigo nem na minha terra natal. Sem poder comprovar, é algo que me intriga. É evidente que, sem conhecer as particularidades da língua como só conhecem os nativos, minhas traduções deixam a desejar. Não chega a ser um “portunhol” ou um “espanguês”, mas as expressões idiomáticas me são desconhecidas. Surgiu a oportunidade de, por um tempo, contar com a ajuda de Maria Renée, confreira boliviana. Como ela decidiu seguir uma faculdade, seu tempo ficou escasso, e há cerca de dois anos voltei eu mesmo a verter os textos para o espanhol. Faço-o porque é difícil encontrar voluntários que queiram ajudar gratuitamente e com o compromisso de não atrasar a versão porque a revista precisa dos textos com antecedência para diagramação e revisão antes de imprimir.

RIE – Como tem sido, durante esses 25 anos, o retorno dos leitores? Há algum caso marcante?

Caúmo – Sabemos que o leitor escreve mais ao articulista quando se trata de criticar, contestar ou discordar de suas opiniões. Mas confesso que não posso me queixar, pois recebo muitos comentários estimulantes. Um dos mais expressivos foi do nosso querido e insuperável conferencista e médium Divaldo Pereira Franco que, em 2005, em Matão, no aniversário de 100 anos da Casa Editora O Clarim, me disse à porta do hotel: “Caúmo, leio todos os seus escritos; gosto muito e aproveito”. O querido irmão com quem já me encontrei algumas vezes em João Pessoa, ainda não me conhecia àquela época. Quem lhe disse meu nome foi o também dileto Miguel Sardano. Outros comentários atenciosos vêm de pessoas que relatam ler, tão logo recebem a revista, meu artigo em primeiro lugar. Dias atrás, a própria confreira Maroísa Pellegrini, ótima articulista da RIE, enviou-me mensagem nesse sentido. Alguns já disseram que destacam a matéria e a arquivam. Lisonjeador, sem ser envaidecedor.

RIE – Quais critérios você utiliza para a escolha dos temas? Existem temas preferidos ou que você se sente mais à vontade para escrever?

Caúmo – Não sei responder, porque não há critério. Pode ser uma inspiração, já que é comum levantar da cama para anotar tópicos de alguma ideia a ser desenvolvida. Outras vezes, são comentários sobre atitudes ou acontecimentos em alguma casa ou de algum dirigente durante nossa palestra. Há ocasiões em que, do nosso estudo semanal sobre O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo, destaco algum assunto relevante da doutrina, imaginando valha a pena divulgá-lo. Assuntos políticos, conflitos sociais e tantos outros servem também de mote para desenvolver um artigo, bem como a autoanálise, tema sempre valioso para o espírita, já que sua maior missão é a conhecida reforma íntima.

RIE – Como abordar temas polêmicos, sendo fiel aos princípios espíritas, e ao mesmo tempo sem gerar falsas interpretações ou revoltas? Você considera um desafio?

Caúmo – Um grande desafio, porque contraria o pensamento da maioria. Em meus livros há artigos sobre chás, shows, bazares, bingos, nos quais destaco a incoerência em fazer certas promoções sob a desculpa de suprir necessidades da casa. Resolvemos o problema material e atropelamos os princípios espirituais. Isso sem falar de bebidas ou jogatinas, rifas, sorteios etc. No nosso centro, recebemos doações para encaminhamento. Por não termos estrutura para organizar uma assistência social que mantenha famílias sob nossa responsabilidade, não fazemos isso. Preferível que o centro tenha menos departamentos e menos atividades, mas que faça bem feito o que já existe, dando bons exemplos. Toda casa que abre deseja logo criar uma assistência social e material. Sopas, enxovais, agasalhos, curas etc. Tudo necessário e importante, desde que possa ser bem feito e sem comprometer o público com doações permanentes. O Espiritismo veio cuidar das almas mais do que dos corpos. Na região onde atuamos, há mais carentes de amor que de pão. Por que temos de dar sopa se eles já têm comida ou agasalho, se já estão bem vestidos? Numa instituição pobre, é justo que um grupo se una para manter os gastos indispensáveis. Aluguel, luz, água, limpeza. Mas se não podemos manter uma casa própria, ofereçamos nossa colaboração noutro centro. André Luiz nos ensina cuidado ao pedir, porque poderá soar como pagamento por serviços prestados.

RIE – Além dos artigos, qual tem sido a sua atuação no movimento espírita?

Caúmo – Dirijo uma instituição, ministro aulas e profiro palestras em muitos centros da capital paraibana e municípios vizinhos, inclusive na Federação Espírita Paraibana. Formamos trabalhadores, organizamos nossa instituição para que ofereça trabalhos de passe, educação mediúnica, desobsessão. Nos setores em que não atuo diretamente, ajudo na coordenação e organização das reuniões. Depois de 17 anos, já temos uma equipe comprometida com a casa, o que nos deixa tranquilos. Fora isso, é da nossa responsabilidade a manutenção financeira do centro. Ninguém dá um centavo de colaboração. Nem trabalhadores nem assistidos. Graças a Deus. As doações que nos chegam visam ao aprendizado da solidariedade e as repassamos para os centros estruturados quanto à caridade material.

RIE – No jornal O Clarim, você mantém uma coluna intitulada “O dia a dia no Centro Espírita”. Em que período essa coluna foi iniciada e qual é o seu principal objetivo?

Caúmo – A ideia é falar do que acontece no centro, baseado em experiência da casa que frequento e das visitas que faço por ocasião das palestras. Outras vezes são temas de cunho moral, sobre datas marcantes. A coluna do jornal O Clarim é praticamente a metade do artigo que vai para a RIE. Foi iniciada em setembro de 1998, com a mudança inclusive do logotipo, por sugestão minha e aprovação da diretoria. Foi-me oferecido o espaço como mais uma deferência do Centro Espírita O Clarim com este embaixador da boa vontade que procura fazer jus à importante oportunidade de mostrar por escrito os seus pensamentos.

RIE – Em seus artigos, é comum ler sobre a rigidez e a disciplina que se deve seguir no aprendizado da Doutrina Espírita. Como você analisa a postura dos espíritas na atualidade, tanto em termos de estudo da Doutrina quanto no comportamento dentro e fora do centro espírita?

Caúmo – A disciplina é algo que se aprende com a própria natureza. O nascimento de uma criança se dá após nove luas, o que permite à mãe organizar o enxoval, o berço, as finanças. Se cada parto se desse de maneira imprevista seria uma tragédia. O lavrador planta o pomar de laranja e pode vender por antecipação porque sabe quando e quanto vai colher. Quando o próprio Emmanuel se apresentou ao Chico para dizer-lhe que escreveriam trinta livros, só pediu ao médium três coisas: disciplina, disciplina e disciplina. A disciplina da dona de casa faz com que se canse menos. A disciplina com o corpo e a vida nos deixa menos doente. No nosso centro, começamos os trabalhos às 20h15. Nesse horário, fechamos a porta para que todos se asserenem e participem da prece inicial e para que o orador não seja perturbado com o entra e sai fora de hora. As pessoas, durante a sessão pública, sentam-se uma ao lado da outra, a partir do canto para o corredor. Assim ninguém passa por cima de ninguém e, já que não permitimos conversa enquanto aguardam, cada um pode ler, meditar ou relaxar, tranquilamente. É o nosso oásis semanal, sem filho chorando, marido atrasado, mulher reclamando. Ali é o nosso momento sagrado e é preciso beber do néctar que a espiritualidade oferece. O espírita ainda é refratário ao estudo. Muitos há que pensam ser o passe a providência mais importante que recebem no centro. O conhecimento é a essência que a doutrina oferece. Os centros que trabalham de porta aberta (quase todos) recebem visitantes que chegam ao faltar cinco minutos para acabar a palestra. Vieram só pelo passe. Se estão iludidos, cabe ao dirigente mostrar-lhes o equívoco. Muitas vezes, quando fazemos trabalhos noutras casas, vemos crianças correndo ou mães brincando com elas, com a conivência de parceiros do lado, sem importar-se com os demais que estão interessados no assunto e com o próprio palestrante que vê desviada a sua concentração. Tudo sob o olhar complacente do dirigente da reunião. Dizem que chamar a atenção é faltar com a caridade. E a caridade com o palestrante e com as demais pessoas? Como fica? Dia desses escrevi matéria para o jornal Comunic Ação, ADE-PR, dizendo que, ao nos iniciarmos como trabalhadores espíritas já não somos nós somente; somos o Espiritismo falado e mostrado. Seja o nosso trabalho de maior ou menor projeção, não importa, somos emissários da doutrina e temos de ter boa conduta. Dentro ou fora do centro; no lar, na escola, no trabalho, na rua.

RIE – Alguma consideração final?

Caúmo – Sou imensamente grato ao Clarim por me permitir externar meus “pontos e de vista” e meu “modo de ver”, no que diz respeito a esta abençoada e libertadora Doutrina dos Espíritos. Mais do que o Consolador Prometido por Jesus, o Espiritismo é o Redentor, porque nos liberta das inseguranças e dos medos, garantindo-nos que a única coisa à qual estamos destinados é a de um dia alcançar a plena felicidade. Obrigado e fiquem com Deus!

RIE  Revista Internacional de Espiritismo – Fevereiro de 2015