Walkiria Araújo – walkiria.wlac@yahoo.com.br

 “Num plano onde campeiam tantas glórias fáceis, a do cristão é mais profunda, mais difícil. A vitória do seguidor de Jesus é quase sempre no lado inverso dos triunfos mundanos. É o lado oculto. Raros conseguem vê-lo com olhos mortais.” (Livro Caminho, Verdade e Vida, cap. 119 – Glória Cristã)

A adoração não se constitui uma prática de genuflexão física. É a alma que se coloca de joelhos no altar da vida e reverencia a figura de Deus através do amor emanado dos corações ao próximo. De que vale glorificar o nome de Deus, se não correspondermos em atitudes as nossas palavras? Não existem barganhas com a Divindade. Não existe barganha com a Lei Divina.

Num mundo onde as glórias passageiras são cada vez mais exaltadas, quando procuramos nos identificar com a Moral do Cristo acabamos por vivenciar uma contramão com a prática social vigente. O Mestre nos apresenta uma proposta de mudança e nos mostra o Reino de Deus, afirmando que poderemos conquistá-lo desde já, através da conquista de si mesmo: Lá o maior será o que se fizer menor. Não busquemos o primeiro lugar. Ensina-nos que o mais importante não é ser reconhecido pelos que estão ao nosso redor, mas que deveremos ter a aprovação da nossa consciência.

Vivemos buscando a aceitação do mundo, mas não buscamos a ratificação de nós mesmos. Questão 850 de O Livro dos Espíritos: A posição social não constitui às vezes, para o homem, obstáculo à inteira liberdade de seus atos? “É fora de dúvida que o mundo tem suas exigências, Deus é justo e tudo leva em conta. Deixa-vos, entretanto, a responsabilidade de nenhum esforço empregardes para vencer os obstáculos.” Quanto maior a responsabilidade dos nossos atos, maior serão as consequências deles. Nosso compromisso é com a Lei, respeitando as convenções sociais, mas nunca fugindo do compromisso assumido com a nossa consciência.

Quando nos dizemos cristãos, explicitamente estamos afirmando que seguimos o Cristo. Seguimos o Cristo em toda sua expressão. Não podemos seguir somente numa parte ou quando nos convêm. Precisamos segui-lO sempre. Isto não significa dizer que conseguiremos sempre, pois ainda não estamos no mesmo grau evolutivo do Mestre, mas precisamos perseverar, sempre. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4)

Além disso, possuímos uma nuvem de testemunhas. Precisamos observar os nossos atos e verificarmos qual a nuvem de testemunhas que estão nos acompanhando. Por mais que existam criaturas que tentem e até consigam fraudar as reais intenções com relação à prática espírita, não conseguem enganar a si nem aqueles que se associam mentalmente a eles por todo o tempo nem o tempo todo. O livro Tormentos da Obsessão (Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco) conta-nos a história do Sanatório Esperança, instituição criada para abrigar médiuns, doutrinadores, palestrantes, enfim, trabalhadores espíritas em geral que faliram nos trabalhos abraçados. Leitura que deveria constituir-se obrigatória para todos nós.

Sabemos que por vezes a caminhada torna-se difícil e gostaríamos de voar por cima dos nossos problemas. Mas não podemos voar acima dos nossos problemas a não ser através da prática do bem. Colocando-nos no lugar do outro, saímos de nós mesmos e “planamos” sobre eles. Saindo de nós mesmos cuidamos da dor do outro enquanto mãos amorosas cuidam das nossas dores. Todos estamos interligados na Obra da Criação.

O agricultor plantou a semente de um pé de rosa. Ele não sabia se seria amarela, vermelha ou branca. Mas sabia que seria rosa. Um dia, de tanto ele aguar e adubar a semente germinou. Cresceu. Deu muitas rosas. Para seu espanto nasceram das três cores. Seu perfume encantava ao agricultor e aos seus vizinhos. Todos gostavam do que sentiam. Quiseram levar as rosas para casa, mas esqueceram-se dos espinhos. Alguns, no primeiro machucão deles desistiram de ter as rosas. Outros foram mais persistentes, desistindo logo mais. Outros, por fim, compreenderam que a grande beleza da rosa constitui-se em ser perfeita com seus espinhos.

Na humanidade o grande agricultor é Deus que nos concebe a possibilidade de reencarnarmos com as mais diversas características: boas e más. As primeiras constituindo-se no amor adquirido e constituído em nós. As segundas são os desvios do caminho que solicitam realinhamento. Não somos perfeitos, neste estágio evolutivo que nos encontramos. Ainda não somos somente pétalas, exalando só perfume; nem também o somos só espinhos, machucando as pessoas. Assim é a vida. Assim somos todos nós. Exalamos o que somos e os que estão ao nosso lado hora terão o perfume, ora terão os espinhos. Mas em tudo, fazemos parte da criação.

Estar encarnado constitui-se uma benção. Não uma benção sem méritos. Mas uma consequência exata do Amor Misericordioso do Pai, que nos permite uma nova oportunidade a cada raiar do dia, a cada amanhecer, quando abrimos os olhos e vemos uma gama de oportunidades que nasce junto com o dia, no qual encontraremos outras rosas e juntos formaremos o grande roseiral da criação divina.

RIE – Revista Internacional de Espiritismo – janeiro 2017