Octávio Caumo Serrano
São poucos os ateus no nosso país. A maioria tem religião e acredita em Deus. É o caso de católicos e protestantes que dominam as estatísticas do Brasil. Segundo o censo de 2012 do IBGE, os católicos eram 64,6 e os evangélicos 22,2% com previsão de que em 2032 os evangélicos superarão os católicos. Observem que só estes dois são considerados cristãos para o IBGE. sempre tão desinformado como a maioria do povo brasileiro, incluindo a elite de jornalistas, médicos, filósofos, psicólogos e que tais.
Quando se lhes pergunta sobre sua crença, afirmam com a boca cheia que confiam totalmente em Deus. Se lhes indagamos como é esse Deus, responderão que é, como diz a oração do Credo, o Pai todo poderoso, criador do céu e da terra. Tem toda sabedoria, inteligência e bondade e com todos usa de misericórdia. Mas quando indagamos sobre a vida após a morte e a reencarnação, recusam-se a admitir que são uma óbvia realidade. Alegam puerilmente que ninguém até hoje voltou para informar como é o “lado de lá”. Recusam-se a ter bom senso, mesmo porque não fazem uso dele. Gostaria de ver a cara deles daqui a vinte ou trinta anos, quando trocarem mensagens pelo Zap com seus queridos mortos, como hoje é trivial nas nossas redes sociais.
Não percebem que menosprezam a inteligência e o poder desse Deus que adoram quando admitem que está vida de sofrimento foi o melhor que Deus conseguiu preparar para nós. Sem nenhuma razão (ou por sua plena vontade), fez aleijados, retardados, miseráveis. Que Deus é esse que discrimina seus filhos dando pão a um e pedra a outro? Em que esse Deus se baseou para discriminar uns e beneficiar outros? Já disse Einstein: “Deus não joga dados”.
Se nada mais há depois da morte, quem ou o que poderá convencer-nos a ser fraternos, generosos, solidários, desprendidos e lutar para sermos melhores eliminando defeitos em favor das virtudes. Por que vou dividir com o outro o produto do meu labor e do meu suor? Se Deus o fez infeliz deve saber por quê. Embora eles não saibam explicar. Deus jogou as almas para o alto e enquanto umas caiam em palácios outras aterrissavam em favelas. Sim, porque o acaso seria a única lei que explicaria essas diferenças.
O que nem todos percebem é que o sofrimento bate em todas as portas. Na casa do pobre nos visita como inanição e na casa do rico pela falta de fé e de entendimento. Na mensagem de Meimei, “Confia Sempre”, por Chico Xavier ela diz “que o maior infortúnio é sofrer a privação da fé e prosseguir vivendo”. Mas qual é a verdadeira fé, se a razão não estiver presente?
A Igreja Romana com seus mistérios de fé está perdendo adeptos a cada dia. Em pouco tempo o império milenar irá ruir. Não terá destino diferente o império da salvação pelos dízimos quando podemos negociar com o filho de Deus, o Salvador, para comprar espaços no céu, com cânticos e a dança do vil metal. Deposite no Banco de Jesus e receba a mil por um. Nossa fé, a fé espírita, é resultado do raciocínio, não de dogmas, porque a nossa nasce do bom-senso, em extinção nestes dias de apocalipse. Ninguém mais quer pensar com lógica e sim pela conveniência. Vivem numa autoilusão.
Ninguém se preocupe. Os tempos já chegaram e o joio já está sendo separado do trigo. Fiquem com seus templos palacianos, com pedras e madeiras importadas, que nós ficaremos com nossas casas simples, sem luxo, sendo apenas abrigos para nos sentarmos e proteger-nos das intempéries, para realização da caridade, sem a qual não há salvação. Em vez de ouro, usamos cal no revestimento de nossas divisórias; quando não param no tijolo nu e no telhado sem forro. A necessidade mínima para a organização dos nossos compromissos. São a nossa versão das Casas do Caminho. O luxo deixamos para os equivocados. Aqueles que após a morte repousarão eternamente nas monumentais lápides dos “campos-santos”, ornamentadas de mármores importados, com inscrições filosóficas que mantém o morto e a família orgulhosos por toda a eternidade, Que Deus os guarde. Quanto ao nosso corpo, parodiando Sócrates na conversa com seus discípulos, joguem fora; não pretendemos estar lá.
Agradecemos a Alan Kardec pelo tesouro que deixou para a humanidade.
JORNAL O CLARIM MAIO 2022